domingo, 13 de novembro de 2011

Transporte de Acidentados (parte I)

O transporte de acidentados é um determinante da boa prestação
de primeiros socorros. Um transporte mal feito, sem técnica, sem
conhecimentos pode provocar danos muitas vezes irreversíveis à integridade
física do acidentado. Existem várias maneiras de se transportar um
acidentado. Cada maneira é compatível com o tipo de situação em que o
acidentado se encontra e as circunstâncias gerais do acidente. Cada técnica
de transporte requer habilidade e maneira certa para seja executada. Quase
sempre é necessário o auxílio de outras pessoas, orientadas por quem
estiver prestando os primeiros socorros.
De uma maneira geral, o transporte bem realizado deve adotar
princípios de segurança para a proteção da integridade do acidentado;
conhecimento das técnicas para o transporte do acidentado consciente,
que não pode deambular; transporte do acidentado inconsciente; cuidados
com o tipo de lesão que o acidentado apresenta e técnicas e materiais
para cada tipo de transporte.
Em muitos tipos de transporte teremos de contar com o auxílio de
um, dois ou mais voluntários. Para estes casos a técnica correta também
varia de acordo com o número de pessoas que realizam o transporte. O
transporte de vítimas é assunto que suscita polêmicas. Devemos tentar
troca de informações entre pessoas que tenham experiências, no intuito
de transformá-las em exemplos úteis. Além disto, trata-se de assunto em
que a proficiência depende quase que exclusivamente de prática e
habilidade física. É importante praticar o máximo possível, até que se tenha
certeza de que não restam dúvidas.
Algumas regras e observações genéricas e teóricas devem ser
aprendidas e conscientizadas por todos, independentemente de suas
habilidades físicas para realizar o transporte de um acidentado. Apesar de
não ser de nossa competência é conveniente que conheçamos algumas
práticas relativas à atividade de resgate de vítimas de acidentes.
 
Resgate
A própria existência da atividade de primeiros socorros estabelece
implicitamente o atendimento do acidentado no próprio local da ocorrência
de uma emergência, acidente ou problema clínico. Muitas vezes, dadas às
proporções e circunstâncias em que ocorrem outros eventos, existe perigo
para quem está socorrendo e para as vítimas.
Se um acidentado, por exemplo, está se afogando, ou exposto a descargas elétricas, gases e outras substâncias tóxicas, inflamáveis ou
explosivas e corrosivas, o primeiro cuidado a ser tomado é o resgate do
mesmo. Quem socorre deverá ser capaz de identificar a quantidade e a
qualidade dos riscos que se apresentam em cada caso e saber como resolver
o problema, evitando expor-se inutilmente. É preciso também ter
consciência da necessidade de agir rigorosamente dentro de seus limites e
de sua competência. Nos casos de resgate de vítimas de acidentes, só
depois de efetuado o resgate é que podemos assumir a iniciativa de prestar
os primeiros socorros.
Independentemente da atuação do pessoal da segurança, se existir,
quem for socorrer deverá estar sempre preparado para orientar ou realizar
ele mesmo o resgate. É preciso estudar com atenção as noções de resgate
que estão contidas nos itens sobre choque elétrico, incêndio, gases e
substâncias tóxicas. Deve ainda ter sempre consigo informações e números
de telefones dos hospitais, serviços de ambulância e centro de informações
tóxico-farmacológicas.

Transporte de Acidentados
As técnicas e orientações contidas aqui são as mesmas desenvolvidas,
acatadas e recomendadas internacionalmente pela Liga de Sociedade da
Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, conforme estabelecido no Curso
de Formação de Monitores de Primeiros Socorros, na Cruz Vermelha
Brasileira, Caderno nº 2, capítulo 10, 1973.
O transporte de acidentados ou de vítimas de mal súbito requer de
quem for socorrer o máximo cuidado e correção de desempenho, com o
objetivo de não lhes complicar o estado de saúde com o agravamento das
lesões existentes.
Antes de iniciar qualquer atividade de remoção e transporte de
acidentados, assegurar-se da manutenção da respiração e dos batimentos
cardíacos; hemorragias deverão ser controladas e todas as lesões traumatoortop
édicas deverão ser imobilizadas. O estado de choque deve ser
prevenido. O acidentado de fratura da coluna cervical só pode ser
transportado, sem orientação médica ou de pessoal especializado, nos
casos de extrema urgência ou iminência de perigo para o acidentado e
para quem estiver socorrendo-o.
Enquanto se prepara o transporte de um acidentado, acalmá-lo,
principalmente demonstrando tranqüilidade, com o controle da situação.
É necessário estar sereno para que o acidentado possa controlar suas
próprias sensações de temor ou pânico. É recomendável o transporte de
pessoas nos seguintes casos: 
· Vítima inconsciente.
· Estado de choque instalado.
· Grande queimado.
· Hemorragia abundante. Choque.
· Envenenado, mesmo consciente.
· Picado por animal peçonhento.
· Acidentado com fratura de membros inferiores, bacia ou coluna vertebral.
· Acidentados com luxação ou entorse nas articulações dos membros inferiores.
 
O uso de uma, duas, três ou mais pessoas para o transporte de um
acidentado depende totalmente das circunstâncias de local, tipo de acidente,
voluntários disponíveis e gravidade da lesão. Os métodos que empregam
um a duas pessoas socorrendo são ideais para transportar um acidentado
que esteja inconsciente devido a afogamento, asfixia e envenenamento.
Este método, porém, não é recomendável para o transporte de um ferido
com suspeita de fratura ou outras lesões mais graves. Para estes casos,
sempre que possível, deve-se usar três ou mais pessoas.
Para o transporte de acidentados em veículos, alguns cuidados
devem ser observados. O corpo e a cabeça do acidentado deverão estar
seguros, firmes, em local acolchoado ou forrado. O condutor do veículo
deverá ser orientado para evitar freadas bruscas e manobras que
provoquem balanços exagerados. Qualquer excesso de velocidade deverá
ser evitado, especialmente por causa do nervosismo ou pressa em salvar o
acidentado. O excesso de velocidade, ao contrário, poderá fazer novas
vítimas. Se for possível, deve ser usado o cinto de segurança.
 
Antes de remover um acidentado, os seguintes procedimentos devem ter sido observados:
·Restauração ou manutenção das funções respiratória e circulatória
·Verificação de existência e gravidade de lesões
·Controle de hemorragia
·Prevenção e controle de estado de choque
·Imobilização dos pontos de fratura, luxação ou entorse.
 
Para o transporte, cuidar para que se use veículo grande e
espaçoso, a ser dirigido por motorista habilitado. Além disto:
·Acompanhar e assistir o acidentado durante o transporte, verificando e mantendo as funções respiratória ecirculatória, monitorizando o estado de consciência e pulso, sempre que for necessário, solicitado ou na ausência de pessoal de saúde especializado para realizar estas ações.
·Orientar o motorista para evitar freadas súbitas e manobras que provoquem balanços.
·Assegurar o conforto e segurança do acidentado dentro do veículo transportador.
·Sempre que possível anotar e registrar, de preferência em papel, todos os sinais e sintomas observados e a assistência que foi prestada. Estas informações devem acompanhar o acidentado, mesmo na ausência de quem o socorreu, e podem vir a ser de grande utilidade no atendimento posterior.

Métodos de Transporte - uma pessoa só socorrendo
Transporte de Apoio
Passa-se o braço do acidentado por trás da sua nuca, segurando-a
com um de seus braços, passando seu outro braço por trás das costas do
acidentado, em diagonal (Figura 9).


Este tipo de transporte é usado para as vítimas de vertigem, de
desmaio, com ferimentos leves ou pequenas perturbações que não os
tornem inconscientes e que lhes permitam caminhar.
 
Transporte ao Colo
Uma pessoa sozinha pode levantar e transportar um acidentado,
colocando um braço debaixo dos joelhos do acidentado e o outro, bem
firme, em torno de suas costas, inclinando o corpo um pouco para trás
(Figura 36). O acidentado consciente pode melhor se fixar, passando um
de seus braços pelo pescoço da pessoa que o está socorrendo. Caso se
encontre inconsciente, ficará com a cabeça estendida para trás, o que é
muito bom, pois melhora bastante a sua ventilação.


Usa-se este tipo de transporte em casos de envenenamento ou picada
por animal peçonhento, estando o acidentado consciente, ou em casos
de fratura, exceto da coluna vertebral.

Transporte nas Costas
Uma só pessoa socorrendo também pode carregar o acidentado
nas costas. Esta põe os braços sobre os ombros da pessoa que está
socorrendo por trás, ficando suas axilas sobre os ombros deste (Figura 37). A pessoa que está socorrendo busca os braços do acidentado e seguraos,
carregando o acidentado arqueado, como se ela fosse um grande
saco em suas costas.
O transporte nas costas é usado para remoção de pessoas
envenenadas ou com entorses e luxações dos membros inferiores,
previamente imobilizados.


Transporte de Bombeiro
Primeiro coloca-se o acidentado em decúbito ventral. Em seguida,
ajoelha-se com um só joelho e, com as mãos passando sob as axilas do
acidentado, o levanta, ficando agora de pé, de frente para ele.
A pessoa que está prestando os primeiros socorros coloca uma de
suas mãos na cintura do acidentado e com a outra toma o punho,
colocando o braço dela em torno de seu pescoço. Abaixa-se, então, para
frente, deixando que o corpo do acidentado caia sobre os seus ombros.
A mão que segurava a cintura do acidentado passa agora por entre
as coxas, na altura da dobra do joelho, e segura um dos punhos do
acidentado, ficando com a outra mão livre. Conforme a seqüência de
procedimentos mostrados na Figura 12.
 
 Este transporte pode ser aplicado em casos que não envolvam
fraturas e lesões graves. É um meio de transporte eficaz e muito útil, se
puder ser realizado por uma pessoa ágil e fisicamente capaz.

 Transporte de Arrasto em Lençol
Seguram-se as pontas de uma das extremidades do lençol, cobertor
ou lona, onde se encontra apoiada a cabeça do acidentado, suspende-se
um pouco e arrasta-se a pessoa para o local desejado (Figura 13).

 


Manobra de Retirada de Acidentado, com Suspeita de Fratura de Coluna, de um Veículo.
A pessoa que for prestar os primeiros socorros, colocando-se por
trás passa as mãos sob as axilas do acidentado, segura um de seus braços
de encontro ao seu tórax, e a arrasta para fora do veículo, apoiando suas
costas nas coxas, como pode ser visto na seqüência de procedimentos
mostrados na Figura 14 a seguir. Esta manobra deve ser feita apenas em situações de extrema urgência.


Fonte: Manual de Primeiros Socorros. Fundação Oswaldo Cruz. 2003